por Roseli Loturco | Para Valor, de São Paulo
Em um ano marcado por turbulências, gestores assumiram estratégias distintas para rentabilizar os recursos do investidor. Do conservadorismo à busca por oportunidades dentro e fora do Brasil, as decisões das casas de investimentos ajudaram a multiplicar os resultados de uma indústria que alcançou R$ 4,5 trilhões de patrimônio líquido (PL) em outubro – dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Entre as 710 gestoras que operam no país, ao menos 18 se destacaram por resultados bem acima da média. Levantamento feito pela consultoria Economatica com exclusividade para o Valor avaliou 559 fundos de investimentos nas categorias ações livres, dividendos, multimercado livre, multimercado macro, renda fixa grau de investimento duração baixa e renda fixa livre grau de investimento – todos com mais de 500 cotistas. Foram ranqueadas rentabilidade e volatilidade de cada investimento, comparadas com as medianas correspondentes do mercado.
O ranking colocou no mesmo patamar grandes bancos e gestoras independentes. Itaú Asset Management e BB DTVM foram os destaques entre as grandes instituições financeiras. Af Invest, Bahia, Gap e Apex Capital lideraram entre as independentes. Todos ocupam o topo do ranking com fundos de classes distintas.
Apesar da alta volatilidade nos mercados, a bolsa deu melhor retorno ao investidor que topou correr mais risco este ano. Seu principal índice, o Ibovespa, variou 14,40% até outubro.
Já no período de 12 meses, o fundo Apex Infinity 8 Long Biased Fc FIA avançou 25,17%, bem à frente da média de 13,02% de sua categoria – ações livres. O fundo, lançado em agosto de 2012, tem rentabilidade acumulada de 170% de lá para cá e PL de R$ 1 bilhão. Seu tíquete mínimo de entrada é de R$ 5 mil, mas é oferecido só a investidor qualificado – a partir de R$ 1 milhão líquido para investir. No mesmo período, os dois benchmarks do mercado renderam bem menos. O CDI avançou 83% e o Ibovespa, 50,4%. “Diante das incertezas, nossa filosofia foi mais fundamentalista. Analisamos empresas que teriam crescimento e lucro independentemente do cenário externo”, afirma Fábio Spinola, sócio fundador da Apex Capital.
Também pesam nessa avaliação o preço do papel e o quanto ele está alavancado em relação ao seu resultado líquido. Os setores que a Apex privilegiou foram os de commodities, papel e celulose, energia, petróleo e comércio eletrônico. “Fibria, Suzano, Petrobras, Energisa, B2W e Localiza foram as escolhidas”, diz Spinola, que tem R$ 7 bilhões sob sua tutela de investimentos.
Quando a opção é por ações de empresas pagadoras de bons dividendos, o gestor está atrás de ganhos periódicos, e não de rentabilidade agressiva. E foi justamente no ranking de fundos de dividendos que a BB DTVM levou a melhor, com o BB Ações Dividendos Fc FI, que oscilou positivamente 10,89% em 12 meses até outubro, enquanto a média de sua categoria foi de 8,36%.
Sua volatilidade também ficou abaixo da mediana de 20,21% no período. Com início em julho de 2002 e PL de R$ 471,79 milhões, esse é um dos fundos de dividendos mais antigos do BB e está acessível para quem tem a partir de R$ 200 para investir. “Esta estratégia de ações de dividendos tem perfil um pouco mais conservador, com empresas com nível de maturidade mais alto e que entregam bons resultados”, diz Carlos José da Costa André, diretor-executivo da BB DTVM, maior gestora de investimentos do país, com R$ 934 bilhões de PL.
Ainda há incertezas em relação à capacidade do fazer as reformas.
A instituição também se destacou, em segundo lugar, na classe ações livres, com o fundo BB Ações Globais Fc FIA BDR Nível I. “Composto exclusivamente com certificados de depósito de valores mobiliários de empresas estrangeiras emitidos no Brasil, a valorização das ações das empresas e a variação da cotação do dólar em relação ao real contribuíram para a rentabilidade de 24,67% deste fundo.”
Apostando fortemente em crédito privado, Itaú Unibanco e Af Invest ocuparam o topo da categoria renda fixa. O primeiro, na classe grau de investimento duração baixa. E o segundo, em grau de investimento duração livre. “Não tem como dar errado quando se investe pesado em pessoas, tecnologia e controle de risco”, afirma Marcello Siniscalchi, diretor do Itaú Asset Management.
“Temos 12 economistas, cinco pesquisadores e consultores no mundo todo para nos ajudar a antecipar tendências. Resolvemos inverter posições quando todos estavam bem otimistas.”
Os fundos Itaú Private Wealth II RF Refer DI FICFI (tíquete inicial de R$ 1 milhão) e Itaú Private Wealth RF Ref DI FICFI (R$ 5 mil) ficaram na primeira e segunda posições no ranking e renderam 6,56% e 6,52% em 12 meses encerrados em outubro deste ano. A média da categoria foi de 5,76%. O gestor, que tem sob tutela R$ 651,4 bilhões em PL, não acha que a volatilidade vá diminuir, pois o movimento de alta de juros nos EUA trará desafios aos emergentes. “Os investidores estavam comprando ativos nos países emergentes porque o juro americano estava muito baixo. Se isso muda, todos os outros ativos ganham preço de risco. A volatilidade não será diferente em 2019”, avalia Siniscalchi.
O gestor, que tem sob tutela R$ 651,4 bilhões em PL, não acha que a volatilidade vá diminuir, pois o movimento de alta de juros nos EUA trará desafios aos emergentes. “Os investidores estavam
comprando ativos nos países emergentes porque o juro americano estava muito baixo. Se isso muda, todos os outros ativos ganham preço de risco. A volatilidade não será diferente em 2019”, avalia Siniscalchi.
Com tamanho bem menor, a asset mineira Af Invest tem 12 anos de mercado e faz parte do grupo Araújo Fontes. E como o ano apresentava muitas incertezas optou por reduzir a duration (duração) – para 2,5 anos, em média – dos ativos, para ter menos volatilidade. Além disso, escolheu companhias com pouca alavancagem, maior possibilidade de geração de caixa e mais estáveis. “As pesquisa eleitorais mostravam disputa bem acirrada e na dúvida optamos por este quadro, mesmo com oportunidades no período”, diz Pedro Sternick, sócio responsável pela gestão dos investimentos.
Seu fundo Af Invest FI RF Crédito Privado Geraes rendeu 7,65% no período, em comparação com uma mediana de 6,18%. Como a emissão de debêntures esteve aquecida e com qualidade no ano, Stenick não viu dificuldades na escolha dos papéis. “Mantive no fundo empresas como Localiza, Multiplan e Lojas Americanas, além dos bancos ABC Brasil, Safra e Bradesco “, diz o sócio da asset, que tem R$ 3,9 bilhões sob gestão.
Os multimercados, que continuam na liderança da captação líquida, com R$ 42,7 bilhões em 2018 até outubro, tiveram dois destaques. Bahia Asset Management e Gap Gestora de Recursos assumiram as lideranças nas categorias multimercado macro e multimercado livre. No primeiro caso, o fundo Bahia Maraú Fc de FI obteve 11,07% e o Gap Multiportfólio FI, 11,76%, em 12 meses até 31 de outubro. Bem acima das medianas de suas classes de ativos, que ficaram em 7,53% e 7,92%, respectivamente.
Com estratégias semelhantes, tanto a Bahia quanto a Gap optaram por maior exposição no mercado externo, aproveitando de forma tática as oportunidades pontuais do Brasil. “Compramos bolsa e juros reais em oportunidades de Brasil. Antes do primeiro turno, fizemos posição no mercado de opções. E deu certo”, diz Renato Junqueira, sócio da Gap Asset Management. Posição que se inverteu após o resultado das eleições. “Agora, apostamos em risco Brasil e entramos mais firmes em bolsa e juro real”, diz.
“Ainda há incertezas em relação à governabilidade e a capacidade do novo governo em executar as reformas. Estamos atentos a isso”, diz Marcelo Mendes, um dos gestores da Bahia Asset.
Fonte: Valor Econômico – https://www.valor.com.br/financas/6004549/linha-de-frente – 29 de novembro de 2018. Autor: Roseli Loturco